domingo, 7 de fevereiro de 2010

Enquadrar-se

E a moda, e coisa e tal.
Para cada romântico idealista que existe, existe também um cético, muito provavelmente pessimista.
Neste estranho dia de verão eu me dou conta do poder benéfico da moda, a moda, a imagem bem arrumadinha, a maquiagem, a pose, e coisa e tal.
Sabe quando você se vê de cima, ou visualisa a foto de um momento como se já tivessem passado 50 anos daquele dia? Pois assim me fotografei, para olhar de longe.
Em um vestido bem cortado mal se entrevia a tristeza por ver a falta de cultura geral das pessoas que estavam no metrô.
Em um sapato colorido entravam pés que quase me fizeram ficar em casa, sem precisar encarar as mudanças brutas de caminhos que é preciso fazer.
Em um colar, penduravam-se lágrimas não derramadas e palavras agressivas que ficaram no silêncio.
Em uma bolsa casual, milhões de sentimentos que nunca serão compartilhados com qualquer um.
Em uma leve maquiagem, leves e grandes sonhos que talvez não sejam possíveis.
Mantendo a coluna ereta, o olhar sério e os lábios fechados (coisa que muitas mulheres hoje em dia não sabem fazer, mas não vou agora falar de conservadorismo porque leva tempo), ninguém percebia além do vestido, do sapato, do colar, da bolsa, da maquiagem. Portanto, tudo correu em perfeita harmonia, pude me enquadrar no grupo de passageiros sem esforço, sem olhares de estranhamento, talvez despercebida.
E foi assim que, depois um ano após concluir a faculdade de moda, passei a me vestir melhor e entender como é mais fácil viver em um plano superficial. Ou, pelo menos, tentar.

Referência do dia: a exposição lindona da Sophie Calle, "Cuide de você", no MAM RJ.

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